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sábado, 31 de janeiro de 2009

lição que aprendi no jardim de casa


O PODER DA NATUREZA
QUERO-QUERO

http://pt.wikipedia.org/wiki/Quero-queroQUERO QUERO


Esse baixinho, cinzento e absolutamente escandaloso fez um ninho no parquinho onde as crianças do meu condomínio costumam brincar diariamente!
Nosso novo vizinho não é o que se pode chamar de amistoso! A potência do seu canto, melhor dizendo, seu grito, que mais parece um alarme contra incêndio é diretamente proporcional ao instinto de proteção com que guarda seu ninho.
Enquanto passeava com meu cachorro nos arredores da rua fechada onde moro, reparei que o local, o playground favorito das crianças, estava interditado, totalmente cercado com uma fita dessas usadas em cenas de crime para isolamento! Há algum tempo que da minha janela noto o parque vazio, fechado.

A reforma dos brinquedos, segundo soube, fora concluída pouco tempo antes e os fatos aguçaram minha curiosidade a respeito daquelas faixas proibitivas impedindo os pequenos moradores do prédio de brincarem.
Na tentativa de descobrir o porquê daquilo tudo, parei diante das faixas de proteção contra invasores.
Rindo de mim mesma por pensar em toda a cena fértil que se desenrolava na minha cabeça de escritora, cenas de mistério, títulos para livros de terror... Esqueci do tempo e me deixei seduzir por meus próprios pensamentos até perder totalmente a noção do motivo que me levara até aquele lugar!
Foi então que um som estridente fez-se ouvir diante da eminente ameaça à Mãe Natureza. Saltei meio metro para trás, ainda segurando meu alienado, porém neurótico, lhasa-apso enquanto me recuperava do susto.
Por algum tempo não entendi quem estava sendo ameaçado, se eu, ou o pequeno gigante papai quero-quero ,que se aproximava como um soldado numa frente de batalha pronto para me expulsar de seus domínios!
Vi então, ao fundo, bem debaixo da casinha de índio os dois motivos do ataque da ave maluca, dois filhotinhos que sem se importarem conosco (meu cão e eu), brincavam zanzando de um lado pro outro felizes da vida!
Os bichinhos um tanto desengonçados por causa de seus corpos ainda muito pequenos e pernas demasiado longas, piavam tão potentes quanto seu pai, enquanto papai quero- quero armava o circo em volta, gritando e sacudindo suas penas para me afugentar dali.
"Passarinho esquisito"... Pensei!
Interessante e definitivamente briguento!
É claro, que numa área isolada eu representava a ameaça, talvez mais ainda que o meu cachorro, que se preocupava somente em cheirar a grama ao redor.
Percebi nesse instante de rara beleza, em total admiração, que nós, seres humanos, somos cheios de contrastes interessantes.

Somos uma espécie curiosa que para protegermos nossas crianças de um ataque quero-quero, interditamos um parque onde a família de pássaros "guerreiros" se instalou e tenta incansavelmente proteger sua espécie da ameaça que provocamos, enquanto somos ameaçados... Uma verdadeira cadeia de ameaças em potencial!
Só pude concluir, ainda rindo da situação bizarra, que apreciar e preservar a natureza é tão divertido quanto interagir com ela e que situações semelhantes incutem um sentimento de respeito e admiração entre as espécies, raças, crenças...
Aquele minúsculo passarinho (cerca de 30cm) e sua tamanha força e coragem mostrou que não precisamos ser grandes, nem crueis, para sermos poderosos e que poder tem mais a ver com respeito do que com opressão.
Se temos bons objetivos na vida, podemos sim mover montanhas ou - no caso da família quero-quero - afastar humanos.
Temos escolhas, porém, e podemos optar por uma delas. Viver a plenitude da vida, errar, cair, levantar, corrigir os erros, melhorar, superar, respeitar... Ou podemos simplesmente passar pela vida, eternamente rodeados de dualidades como “Ser ou não Ser”, andar ou correr, matar ou morrer, ou ainda sem jamais descobrirmos se “É melhor ser amado ou temido”!
Em outras palavras eu diria, que diante daquela situação inusitada no jardim da minha casa, aprendi na prática como é sublime e intensa a força do respeito ao que quer que seja, mas principalmente à força da natureza, força essa que move o mundo, que faz as engrenagens girarem e que embora isoladas pareçam sem sentido, num senso geral, se encaixam perfeitamente!

Assim como todas as dualidades que podemos escolher da vida, o respeito trás a paz, a harmonia entre os que se apresentam diferentes e a crença de que se passássemos mais tempo procurando por respeito o nosso insignificante planeta, assim como o passarinho no meu jardim, continuaria sendo um lugar ínfimo, perdido no meio do Cósmo, porém, bem melhor de se viver!
Hoje o território das crianças pertence a um pássaro que enquanto escrevo este texto, pia incessantemente ao menor sinal de ameaça.
Ele continua lá, fazendo seu trabalho como um bom guardião, agindo por instinto como foi criado para agir e eu estou aqui, diante do computador, digitando a lição que aprendi!
A ameaça?
Tão pequenas e indefesas quanto os filhotes de pássaro, que possuem asas e não aprenderam a usar, as pequenas criaturas humanas, "ameaçadas", aprendem a maior lição de suas vidas enquanto são impedidas de brincarem!
O respeito à natureza... O respeito a tudo que está próximo e o amor incondicional e verdadeiro entre pais e filhos.
Quanto ensinamento um simples passeio pode proporcionar? Bem, isso depende de quanto tempo dispomos para refletir sobre que o a vida tem para nos oferecer e como podemos agradecer à natureza pelo simples fato de estarmo vivos!


Alessandra C. Maiello